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Desiderata Xamânica

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Mensagem  Admin Sex Mar 12, 2010 12:20 pm

Desiderata Xamânica
Nos primórdios dos tempos, há cerca de 10 mil anos, no Período Paleolítico, quando os homens ainda moravam em cavernas cercadas de feras, eles viviam com medo de tudo. Mas, ao observarem o ciclo da natureza e suas manifestações, reflectiram sobre sua relação com o Universo, e, sem saber, estabeleceram uma ponte com o macrocosmo, traçando um fio que nunca mais iria se romper. Por um tempo adormecido, mas não esquecido, os rituais xamânicos voltam agora a despertar a atenção dos homens modernos, independente de seu estágio cultural ou do facto de viverem na selva de pedra urbana cercados de racionalidade, coisa que não existia quando os nossos antepassados se reuniram pela primeira vez ao redor de uma fogueira.
Anterior a todas as religiões, psicologias e filosofias conhecidas, o xamanismo em si é o conjunto de práticas e técnicas arcaicas ligadas à natureza, com o propósito de expandir a consciência para melhor. Sua principal característica é considerar que todas as criaturas do Grande Espírito são irmãs. Os nossos antepassados respeitavam a natureza, prestando atenção aos seus sinais, aplicando suas leis nas suas vidas e actividades, vivendo em harmonia com o meio ambiente.
Os xamãs preservam um notável conjunto de antigas técnicas desenvolvidas ao longo dos séculos, usadas para obter e manter o bem-estar e a cura para eles próprios e para os membros de suas comunidades, possibilitando aos indivíduos aprenderem conscientemente a transpor o aparente abismo existente entre o mundo físico e as esferas da imaginação e da visão. Esse conjunto de práticas e técnicas xamânicas revelam-se de notável semelhança em todo o mundo, mesmo para os povos cujas culturas e tradições são diferentes, e que, há milhares de anos, estão separados uns dos outros por oceanos e continentes.
Sem o nível de tecnologia médica actual, esses povos chamados primitivos tiveram excelente razão para sentirem-se motivados a desenvolver capacidades não tecnológicas da mente humana para a saúde e para a cura. A uniformidade dos métodos xamânicos em todas as partes do mundo, da Sibéria até a Patagónia, da China até às Américas, da Escandinávia até a África e à Austrália, sugere que por meio de tentativas e erros os povos chegam às mesmas conclusões.
O xamã é escolhido a partir de um chamado divino, por herança ou por aprendizado. Em qualquer um desses casos, ele teria que passar por experiências iniciáticas e um árduo aprendizado, no qual o futuro xamã experimentava sua própria morte e renascimento, penetrando nos outros mundos, aprendendo a linguagem dos animais, das plantas, das pedras e encontrando os Guardiães e os Mestres das outras dimensões. Abrindo as portas da sua percepção, o xamã recebia os conhecimentos e o poder para ajudar e curar os outros. Ao final, seu corpo é refeito, porém, sempre faltará um ossinho, perdido e jamais encontrado, para dar a ele a dimensão de sua imperfeição e, portanto, de sua humanidade.
Os xamãs não seguem nenhum dogma ou religião, todos acreditam na rede universal de poder que sustenta toda vida. A origem de sua fé reside na sua própria experiência com a natureza. Segundo o xamanismo, todos os elementos do meio ambiente estão vivos e todos possuem sua fonte de poder no mundo espiritual. Pedras, plantas e animais estão carregados de vida e devem receber o devido respeito para a manutenção da harmonia e da saúde. Para os xamãs, todas as formas de vida estão interligadas, e o equilíbrio mutuamente sustentador entre eles é fundamental para a sobrevivência da humanidade. Nosso trabalho na Nascente de Luz, em Alenquer, consiste em compreender este equilíbrio e viver em harmonia com ele, levando sempre a natureza em consideração. A rede de poder da natureza é o doador da vida e a fonte de toda actividade bem-sucedida.
Com o advento da Revolução Industrial e, um pouco antes, no século 16, com a fundação das igrejas, das empresas e do expansionismo branco, quando culturas nativas foram massacradas, a humanidade distanciou-se da natureza, criando um mundo onde há poluição, violência e desequilíbrios. Vendo a terra apenas como fonte de rendimento e os minerais, vegetais e animais como meios para servir seus interesses, o homem cortou os laços que o ligavam à Mãe Terra, tornando-se solitário, desvitalizado, desencantado e desequilibrado. É, provavelmente, devido à perda desse sentido arcaico de ligação estreita com o universo primitivo interno, que o homem contemporâneo desrespeita a natureza, levando à catástrofe ecológica tanto externa quanto interna.
Todavia, milhares de pessoas procuram resgatar esse elo perdido com a Mãe Terra, restabelecendo seu próprio equilíbrio. Estas práticas xamânicas estão a retornar hoje como autêntica força viva, em meios sofisticados como o das terapias alternativas contemporâneas. Tal penetração deve-se também ao interesse que o assunto despertou em estudiosos de outras áreas, como é caso da antropologia, da etnologia, da história das religiões e de outras.
A partir da década de 60, o antropólogo americano Michael Harner, ao pesquisar a civilização dos índios da Amazónia Peruana, submeteu-se voluntariamente a uma iniciação xamânica. Nesse processo, ele entrou em contacto com o universo do xamã. A partir daí, percebeu que as técnicas multimilenárias dos xamãs poderiam ser trazidas ao homem racional e utilizadas para o restabelecimento da energia vital e, consequentemente, do equilíbrio psicológico e corporal.
Por outro lado, de forma análoga ao que busca a moderna psicoterapia, a cura xamânica também objectiva o estabelecimento de uma ponte entre o consciente e os conteúdos do inconsciente profundo. Não há, praticamente, diferenças substanciais entre uma postura e a outra. As psicoterapias seriam sistemas formais de pesquisa e cura do inconsciente. No xamanismo, isso ocorre de uma forma natural e empírica, nos moldes consagrados de uma sabedoria multimilenar que a pesquisa moderna vem resgatando.
Na base da técnica xamânica de cura está a retomada do contacto com as fontes de energia primordiais: animais, vegetais, minerais e a energia dos quatro elementos, fogo, ar, água e terra. Todas essas energias existem no mundo natural e, em estado latente, no interior de nossa psique. As técnicas tradicionais xamânicas preconizam o uso de substância alucinógenas para produzir o estado alterado de consciente, que será a ponte de ligação entre consciente e inconsciente. Para o homem civilizado, em geral prisioneiro de um sistema neurótico de vida e não habituado cultural e organicamente à ingestão de tais substâncias, a experiência quase sempre produz resultados que põem em risco a saúde e, por esse motivo, não seja apologista de tal prática pois existem outras formas sem ingestão de qualquer substância.
A grande contribuição de Michael Harner foi criar um método de entrar em estado alterado de consciência sem o uso da droga alucinógena. Harner afirma que o que consideramos realidade subjectiva no estado comum de consciência é realidade objectiva, naquilo que ele baptizou de estado xamânico de consciência. Assim, se numa experiência xamânica encontrarmos um dragão, ele terá, para o xamã, realidade plenamente objectiva e não mítica. A partir daí, Harner concluiu que, para conseguir-se um efeito objectivo no estado xamânico de consciência, bastaria um estímulo subjectivo no estado comum de consciência. Esse estímulo é o som produzido por batidas rítmicas de tambores e chocalhos, instrumentos tradicionais do xamã.
O primeiro passo que deve ser dado logo após a entrada no estado xamânico de consciência é a descoberta do túnel xamânico (local de poder). Esse túnel, que corresponde à ponte de ligação entre o consciente e o inconsciente, levará ao mundo xamânico, onde, a nível simbólico, toda a experiência xamânica se desenvolve. A viagem através desse túnel é feita sempre sob o estímulo do som de tambores, e é geralmente precedida por uma dança similar àquela praticada pelos índios.
Ao começar a viajar entre os mundos o xamã deve procurar seus aliados espirituais: guias, mestres, auxiliares e animais de poder. No mundo superior é onde encontramos os nossos mestres e ancestrais, que nos dão conhecimentos, poder, equilíbrio e saúde, visando a nossa evolução como Ser. No mundo inferior encontraremos nosso animal de poder e os animais auxiliares. O primeiro, em termos simbólicos, corresponde à nossa parte animal preponderante. Como todos os símbolos, esse também apresenta uma bipolaridade. Tem um aspecto de energia vital curativa – que, como todo bom anjo da guarda, está sempre disponível para nos ajudar e proteger – e também a sua igual e contrária parte destrutiva.
O animal de poder não é nada mais que um parente de outro reino ou nível energético, confirmando, assim, que todos nós somos irmãos e filhos do Grande Espírito. Neste momento do despertar de uma nova consciência ecológica, é importante lembrar-nos deste parentesco, para evitar a destruição e poluição desses outros planos da existência. Várias outras etapas se sucedem, numa sequência gradativa que obedece a uma metodologia perfeitamente estruturada. Segue-se, por exemplo, a etapa da busca do animal de cura, que servirá para a autocura e a cura dos outros, a cura à distância, a restauração do poder animal e, entre outros, a busca da parte perdida da alma, numa clara analogia com o trabalho dos psicoterapeutas. A cura xamânica é simplesmente uma ampliação da consciência diligenciando a mobilização do factor de autocura. Todo arquétipo pressupõe uma contraparte. O curador contém o doente e vice-versa.
Com a prática do xamanismo nós nos tornamos co-criadores na vontade colectiva da natureza. Nos tornamos agentes da mudança no drama da evolução. Mais do que isso, libertamo-nos da ilusão de isolamento e entramos na realidade da inter-relacção de toda vida. O xamanismo é uma jornada mental e emocional, onde tanto o paciente quanto o xamã ficam envolvidos. Através de sua heróica viagem e de seus esforços, o xamã ajuda seus pacientes a transcender a noção normal e comum que têm acerca da realidade, inclusive a noção de si próprios como doentes. Faz sentir aos seus pacientes que eles não estão emocionalmente e espiritualmente sozinhos nas suas lutas contra a doença e a morte. Faz com que eles partilhem de seus poderes especiais, convencendo-os, em profundo nível de consciência, de que há outro ser humano desejoso de oferecer seu próprio Eu para ajudá-los. A abnegação do xamã provoca no paciente um compromisso emotivo correspondente, um senso de obrigação de lutar ao lado do xamã para se salvar. Zelo e cura caminham juntos. Finalmente, a prática do xamanismo leva-o, consequentemente, a alinhar-se com as forças de cura da natureza. Encontra-se equilíbrio e integração. Sabemos quem somos e para onde estamos indo.
Este texto foi baseado num texto de Wagner Frota, sofrendo alterações nalgumas partes.
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